A parte I do Post é logo o anterior a esse, mas AQUI
também se pode encontrá-la.
Continuando...
Mudo de lugar com uma das crianças, pois três carteiras depois da minha, está D., a outra
aluna adulta do grupo (aquela que fez sua apresentação no primeiro dia falando
muito a respeito de si mesma). Somos parceiras agora! Ela tem quase a minha
idade, é alemã, tem um mau gosto impressionante para se vestir, come muito,
masssss muito mesmo, deixando seus cheiros em minhas narinas e seus barulhos em
meus ouvidos ao mastigar tão incessantemente! Percebo já nos primeiros dez
segundos que embora a idade, nós duas não temos absolutamente nada mais em
comum. Ela caminha devagar, fala baixo e lento, ri sozinha das próprias coisas
que conta (por sinal, muito sem graça e sem sentido, embora eu não as entenda
de todo). Ela me observa e me “ajuda”. A ajuda dela me irrita. Aliás, ela
inteira é um desafio.
Na pausa de 15 minutos vamos juntas à padaria. Enquanto caminhamos lado a lado, ela fabrica seu cigarro, enrolando-o muito pacientemente com o fumo emaranhado de um pacote. Cigarro feito. Aceso. Ela o fuma de forma tão pouco atraente, que até eu, fumadora exímia de mais de vinte anos, que há apenas um mês está sem fumar, não fico sequer com vontade de dar um teco. Antes de entrarmos na padaria ela apaga seu cigarro fumado na metade, deixa a metade não fumada na janela musguenta do lado de fora do estabelecimento, compra meio litro de café, três salgados grandes e um doce ainda maior. Que apetite de labrador! Penso, constrangida, entendendo agora o porquê do manequim GG dela (e já preocupada, pois ao passo que vamos, chegaremos no curso com atraso).Eu a apresso um pouco. estou nervosa, prestes a empurrá-la ou deixá-la para trás. Essa mulher é o meu pesadelo.
Na pausa de 15 minutos vamos juntas à padaria. Enquanto caminhamos lado a lado, ela fabrica seu cigarro, enrolando-o muito pacientemente com o fumo emaranhado de um pacote. Cigarro feito. Aceso. Ela o fuma de forma tão pouco atraente, que até eu, fumadora exímia de mais de vinte anos, que há apenas um mês está sem fumar, não fico sequer com vontade de dar um teco. Antes de entrarmos na padaria ela apaga seu cigarro fumado na metade, deixa a metade não fumada na janela musguenta do lado de fora do estabelecimento, compra meio litro de café, três salgados grandes e um doce ainda maior. Que apetite de labrador! Penso, constrangida, entendendo agora o porquê do manequim GG dela (e já preocupada, pois ao passo que vamos, chegaremos no curso com atraso).Eu a apresso um pouco. estou nervosa, prestes a empurrá-la ou deixá-la para trás. Essa mulher é o meu pesadelo.
Não sei com que faceta de espanto eu a olhei quando a gulosa chegou com seus quitutes variados, pois
mesmo tentando ser discreta em meu silêncio (e tentando não mostrar horror à quantidade de porcarias que ela comprou), ela me olha e confessa antes de eu dizer qualquer coisa:
“Eu gosto muito de comer!”
...Argghh, como se eu não tivesse percebido isso por mim
mesma!
Por causa da lentidão e das tantas atividades que ela
desempenha durante nossa caminhada do curso à padaria, e da padaria de volta ao
curso, acabamos chegando de fato atrasadas: Sete minutos! Levamos um pito daqueles, tal qual uma professora do
jardim de infância daria ao flagrar uma criança pintando a parede com giz de
cera ou fazendo cocô fora do peniquinho. Eu que não sou gente boa ainda
tento amenizar a comilona que ficou muito preocupada pela chamada de atenção
que levamos. Mesmo sendo ela a culpada pelo atraso ocorrido, ainda tento
confortá-la, dizendo:
“Ah, não esquenta a cabeça! Daqui pra frente
chegaremos no horário!”
Digo isso não
apenas para reconfortá-la, como também para deixar bem claro que jamais
irei a qualquer lugar com ela novamente.
E aí, apesar de eu não ter tocado na cara dela que por
culpa do seu andar de lesma levamos pito, a tartarugona fumante olha para mim e
diz com aquele jeito hippie de quem acabou de fumar não um cigarro, mas um
quilo de haxixe:
“Cara, não sei como é lá no Brasil, mas na Alemanha pontualidade é algo muito importante. A gente precisa cuidar agora, pois estamos no período de experiência, pois na Alemanha blá blá blá...”
Arghhhhhh ela que anda feito um pato e confessa suas batalhas para ser pontual (pois NÃO consegue), e depois ainda tem a cara de pau de me dizer um treco desses.
“Não sei como é no Brasil, mas na Alemanha é assim e assado” é uma observação (colocada em casos absurdos) que ainda escutarei muito dessa boca gulosa, geralmente suja de maionese. Falando em maionese... Meu Deuzzzz como os ruídos que ela faz me tiram do serio! Não só quando ela mastiga, mas principalmente quando rumina suas imbecilidades. A criatura tira um sanduíche de atum da bolsa a cada trinta minutos e o devora. Atum!!!!! Não sei o que é pior, se o cheiro de peixe logo de manhã ou os ruídos insuportáveis que ela faz ao mastigar seus pães crocantes, aquelas saladas gregas horrorosas de azeitonas, pepinos e queijos de cabra, suas maçãs orgânicas, pequenas e infinitas. Socorrro! Estou morrendo! Ela saiu do inferno para me atiçar.
“Não sei como é no Brasil, mas na Alemanha é assim e assado” é uma observação (colocada em casos absurdos) que ainda escutarei muito dessa boca gulosa, geralmente suja de maionese. Falando em maionese... Meu Deuzzzz como os ruídos que ela faz me tiram do serio! Não só quando ela mastiga, mas principalmente quando rumina suas imbecilidades. A criatura tira um sanduíche de atum da bolsa a cada trinta minutos e o devora. Atum!!!!! Não sei o que é pior, se o cheiro de peixe logo de manhã ou os ruídos insuportáveis que ela faz ao mastigar seus pães crocantes, aquelas saladas gregas horrorosas de azeitonas, pepinos e queijos de cabra, suas maçãs orgânicas, pequenas e infinitas. Socorrro! Estou morrendo! Ela saiu do inferno para me atiçar.
Depois de se alimentar a quarta vez no intervalo de
duas horas, ela começa a levantar a mão para participar e comentar nas aulas.
Ela fala mais que o professor que não é professor. Ela tem um tique nervoso,
pois lá pelas tantas semanas decorridas, os professores que não são professores
passam a ignorá-la. Eles fingem não ver aquele braço nutrido e chato levantado,
sempre pronto para falar e falar e falar.
Eu já sei quando a criatura quer comentar algo antes mesmo de ela abrir
a boca. Não consigo evitar: Estou fazendo caretas quando ela fala. Gesticulo e
a imito. Interpreto seus bláblás fazendo
mimicas pelas costas dela. Sim, pelas costas! E de forma pouquíssimo dissimulada,
pois se ela me der um flagrante mando-a ir comer salsichas. Já chamei a atenção da galera do lado oposto, que
agora ri e coopera comigo quando a rorqual fala, acompanhando-me nos movimentos
de imitá-la e zoar das bobagens que ela discursa. De alguma forma a doida
sempre consegue mencionar algo sobre a viagem que fez a Israel. Interrompe o
professor que não é professor para mostrar que já sabe de antemão o que ele vai
falar. Mostrar seus conhecimentos avançados, não agregando valor às aulas, mas
enchendo o saco! Em algum instante, depois de sofrer mais uma de suas diarreias verborrágicas,
ela olha para mim e se abre:
“Sou superdotada. Fiz o teste de QI e tirei 130.”
Dou risadas. Ela se ofende. Ressalta que é verdade o
que me conta. Eu engulo as risadinhas que dei e inclusive meus próprios
pensamentos ao acreditar que, por fim, ela tinha conseguido contar uma boa piada.
Acredito mesmo que a criatura seja um gênio, pois de fato os conhecimentos e inteligência
dela são impressionantes (negativamente ou não).
Ela é do tipo maluca instável: Desde o primeiro dia de aula, conta suas experiências horas a fio, como se estivesse falando em partes com
ninguém, e em partes, com uma plateia gigante. O pessoal está viajando,
conversando paralelamente, rindo da cara dela (com meu apoio e estímulo, claro).
Ninguém a escuta, sequer por educação, mas ela continua divagando sozinha (alto
e em bom som). Uma mulher em posse de suas faculdades mentais jamais faria o que ela faz.
Em outros dias, ao contrário de contar suas aventuras
às paredes, ela chega a alterar sua voz de lesma morta e chega mesmo a exigir
atenção por parte de seus companheiros mal-educados que a ignoram.
“Assim, com vocês conversando enquanto eu
falo, não tem graça participar das aulas”.
Ela não percebe que não tem graça para ninguém quando
ela participa das aulas! Amadeuzzz, como pode existir uma criatura tão sem
noção e autoimagem na face da terra? Ela chega mesmo ao cúmulo do absurdo
quando (em voz alta para que todas a ouçam) compara o trabalho de uma bactéria viva
no organismo (também vivo) com o movimento do universo e não sei que lá do
Cosmos. É chocante! Surreal! Estou pagando muito mais que pecados ali. Na
verdade, acho que já morri e estou no inferno. Ela é tão louca que começo a
gostar dela. Mentira, não começo não. Estou só pensando em como dar no
pé dali o quanto antes e me mudar para outra carteira sem ferir os sentimentos
da doida de pedra. Amadeus! Estou surtando nesse lugar. Começo a brincar com os
garotos do outro lado para matar tempo, enquanto ao mesmo tempo cogito a ideia
de abandonar não somente essa carteira, como o curso em si.
Todos os dias eu levo balas e pirulitos par os meninos
(meus filhos) que sentam perto de mim, contudo em um dia qualquer - já com os
nervos em frangalhos - chego de mãos abanando, sem quitutes. Eles reclamam.
Protestam. Eu falo que logo eles terão problemas nos dentes, de pele, para cagar se continuarem
comendo doces desse jeito, (eu podia ter falado em prisão de ventre, mas preferi por livre e espontânea vontade ser
vulgar). A louca - que até então estava quietinha no meu lado - escuta isso e
tem um acesso de riso tão grande, que de emocionada (ela não está acostumada a
rir) abocanha meu braço e me morde. Sim! Morde com dentes! Do nada! De repente!
- Você não existe mesmo! Como pode ser tão engraçada?
Ela me pergunta cheia de dentes, embora até então nunca tenha rido de uma das minhas piadas ou brincadeiras de mau gosto... E ri, faceira, realizada, feliz... como se nos conhecessemos de toda uma vida. Quase dei uma cotovelada na cara dela, pois peralá: Sentamos lado a lado, mas ainda não temos camaradagem para ficar nos mordendo. Jezuis! Qual é o próximo passo? Fazermos amor?
- Você não existe mesmo! Como pode ser tão engraçada?
Ela me pergunta cheia de dentes, embora até então nunca tenha rido de uma das minhas piadas ou brincadeiras de mau gosto... E ri, faceira, realizada, feliz... como se nos conhecessemos de toda uma vida. Quase dei uma cotovelada na cara dela, pois peralá: Sentamos lado a lado, mas ainda não temos camaradagem para ficar nos mordendo. Jezuis! Qual é o próximo passo? Fazermos amor?
Ela pensa que é da minha turma e quer se chegar a todo
custo. Eu me obrigo a gostar dela, pois entendo que D. não é má pessoa,
porém... Que mulher insuportável!
Ela me liga um sábado à noite enquanto assisto a um
filme de ação com meu marido para contar o quanto se sente solitária. Eu a
escuto. Juro! Quase quarenta minutos. Tenho pena dela. Depois dessa ligação eu
a entendo um pouco melhor e me proponho a ser sua amiga. Aliás, eu me obrigo!
Dentro da minha cabeça tudo funciona bem direitinho e dá certo, o problema é o face to face na segunda-feira.
Ela continua comendo o tempo inteiro coisas com peixe
e azeitonas, mastigando feito um coelho, interrompendo as aulas a todo instante
para comentar coisas que ninguém quer ouvir. Do nada, a doida começa a fazer
tricô! Sim, tricô! Em plena sala de aula! Era o que nos faltava!
A coisa começa a sair do controle, a maluca vira
motivo de piada. Ela é um alvo perfeito para Bullying, mobbing, assédio, dedada
nos olhos, na bunda... Irresistível nesse quesito! Tem gente que nasce com talento para ser desprezado!
Agora ela deu pra chegar ao curso com
uns lenços na cabeça, tal quais aqueles que usávamos para esquentar o Neocid na
cabeça quando éramos crianças e pegávamos piolho. Todo dia um pano feio na
cabeça, enrolado de forma ora a me fazer pensar em piolhos, ora imaginando-a
como uma campesina colhendo batatas no campo. Acredito que a fascinação dela por Israel está afetando seu juízo... (ainda mais!).
Nossa primeira prova será em breve. E será de Direito
(de enfermagem). A maluca se empenha em me ajudar por causa do idioma, que agora
mais do que nunca dado ao vocabulário que nunca antes vi na vida, é quase chinês.
Faz-me até mesmo um resumo, prontifica-se a me explicar tudo que eu não
entendo. Sublinha em vermelho nos textos o que acha ser importante a sabermos.
Pelo empenho e boa vontade dela, juro a mim mesma que
me empenharei a respeitá-la e adorá-la até que me saia sangue dos olhos.
Mas... Conseguirei?
Como assim, te mordeu??? Estou de boca aberta aqui! Essa parte eu não sabia! Kkkkkkkkk
ResponderExcluirEu nunca levei uma mordida... Sendo que trabalho na Psiquiatria!!!
Hoje, em vez de uma mordia, levei um beijo - e bem babado! Um paciente me pegou de surpresa - me tacou um beijo na bochecha! Levei um susto! Ainda bem que foi na bochecha... E que foi um beijo... Uma mordida seria bem pior... Hehehehe
Uma coisa que sempre me esqueço de te falar é que descobri uns livros de alemão sobre termos técnicos para enfermagem. Baixei uns e-books... Mas não olhei ainda. Pois, se não consigo nem dizer as horas... Imagina os termos técnicos... O.o
Esses livros - de alemão para a enfermagem - tem preços bons aí na Alemanha... Pesquisei no Amazon e custam em média 15 euros. E tem para todos os níveis... Desde o A2 até o avançando. Nível topeira, que é o meu, eu não encontrei...
Tá! Eu prometo que vou parar de comentar! Senão vais acabar cancelando a opção dos comentários novamente... É que com teclado físico é tão fácil escrever... Acabo me empolgando. Mas vou me comportar, eu prometo!
Obs: agora estou curiosa para ler o restante da saga sobre esse curso bizarro de enfermagem. Por isso que, quando ouvi aquela tua msg dizendo que eu teria que fazer esse curso... Pensei... "a jornada da hobbit termina aqui".