De volta à Alemanha e no curso de alemão para
estrangeiros em Nuremberg, deparo-me agora com um alemão mais avançado, embora
a esquisitice dos estrangeiros ainda esteja lá, tal qual cinco anos antes
quando iniciei o curso básico de alemão em Leipzig.
E é aqui que me deparo com a multiculturalidade de toda a parte do mundo, e que vejo e observo na mesma sala
de aula todos os dias, gente tão diferente com o propósito igual: Aprender alemão!
Nem toda situação do estrangeiro no meu grupo é tão linda
e fácil quanto a minha (casada com alemão). Tem gente que chegou à Alemanha como asilado político, tal quais ucranianos, africanos, e iraquianos.
Outros, fugindo da escassez de seus países, à procura de emprego e melhores
oportunidades.
Embora seja verão na Alemanha, no ultimo mês a
temperatura oscilou entre 10 e 38 graus. Em uma semana tivemos “inverno” e na
mesma semana um calor de fazer suar pelos olhos. Obviamente não existe ar
condicionado nesse país! Se existe, nunca vi um... A professora ri um bocado quando vê seus estrangeiros alunos agasalhados
com casaco e capuz, quando há calorosos 15 graus na rua! Ela acha que com 15
graus não há motivo para sentir frio, afinal, para quem chega a ter 25 graus
negativos durante o ano... 15 graus é motivo para andar em shortinho e regata.
Se a maluquice entre frio e calor não fosse o
bastante, ainda tivemos uma semana chuvosa que obrigou nossa sala de aula (que
comporta umas 20 cabeças) a manter-se com janelas fechadas. Não é pausa ainda,
mas vou ao banheiro. Quando volto sinto um cheiro insuportável no lugar: É
cheiro de gente! Espero que não seja cheiro de estrangeiro... mas Mama mia! Tem
um cheiro de asa, sovaco, pé, cabeça, bunda... que quase me faz cuspir o estômago
pela boca. Eu acho que quando a gente fede, a gente não tem consciência plena
que fede. Ou aquele que fede acha que só ele sente o próprio fedor, mas seu
vizinho não. Sei lá. Era cheiro de quem não toma banho mesmo. Não passa
desodorante, um perfuminho, não lava a cabeça e as partes intimas...
Espero que a professora, sempre tão bem vestida e asseada,
não ache que esse cheiro de cabrito na sala é cheiro de estrangeiro, tal qual eu começo a ficar desconfiada.
Para ajudar, ao meu lado, estava sentada uma africana não
sei de qual país. Apesar de a garota ter o cabelo bem curto, ela aparece nesse
dia com uma peruca gigante de rastafári. E vou dizer uma coisa: Esse treco
fede! Barbaridade! Não sei se é cola ou que diabos, mas o treco tem cheiro de
boca que acaba de acordar. Estou quase desmaiando com tantos fedores na sala.
O turco na minha frente parece não ter escovado o
dente, pois vejo resquícios de pizza em seus dentes.
Todos assoam a porra do nariz (com exceção dos
asiáticos) até causar arrepios no cérebro de quem não o assoa. E o pior é que
eles colocam o papel cheio de ranho de volta no bolso (isso é tão tipicamente alemão
que até me estranha que ingleses também o façam). Deve ser um lance europeu
isso.
Svetilano, o russo que senta ao meu lado é burro bobo pacas, daqueles que responde tudo errado no momento errado,
faz piadas das quais ninguém entende ou acha graça, usa de seu machismo
cultural para tentar bancar o bobo da corte, e embora ali todos nós tenhamos
sotaque ou falemos alemão com certa dificuldade, ele extrapola todos os limites
da paciência com seu rrrrrrrr puxado, escassez de vocabulário e comidas de
verbos essenciais da oração. Sem brincadeira! E para quem acha que eu não tenho
coração ao me referir assim do infeliz, saca o drama e chora comigo aqui, vai:
A chinesa que estuda com a gente nos pede que participemos
do vídeo que ela está fazendo para sua melhor amiga que vai casar. A tarefa é
simples: Devemos desejar votos de felicidades e bláblá em nosso idioma materno, já que a sala está minada de gente de todos
os cantos do mundo e vai ser legal enviar um vídeo com idiomas diferentes. O russo tonto quase não consegue entender que os votos são em seu idioma, e começa
falando em alemão (bem ruim por sinal) umas três vezes, até captar e entender a
mensagem. Depois, anuncia com todas as letras para quem quiser ouvi-lo, que
desejou à garota muitos bebês! Até que essa tiradinha infeliz foi engraçada. Eu
ri. Todo mundo que escutou riu. A chinesa, muito educada, diz que não é tão absurdo
os votos dele, o problema é que a lei da China só permite dois filhos por
casal. A gente para de rir.
A professora nos dá umas folhas nas quais teremos que
responder perguntas, depois de escutar uma entrevista (através de um CD). Na
primeira linha da atividade já podemos ler: “Ouça e responda”, mas o russo
olha para seu papel e já começa a responder tudo, acreditando supostamente
poder antever as respostas que ainda não escutou de antemão. A professora diz
que já está na hora de ele começar a entender que raios está acontecendo ali.
E mesmo tendo chutado todas as respostas, o panaca
fica feliz quando acerta, coincidentemente, alguma.
Em outra oportunidade, a professora pergunta quem
gostaria de ler um diálogo entre uma chefa
e seu funcionário. Svetilano imediatamente se prontifica a
ler a bagaça, interpretando uma parte do diálogo, mas já avisa que será o funcionário (e não a chefa), pois
qualquer coisa é melhor que ser mulher! Nesse momento peço ao meu colega da Jordânia
que me de um chute na cara...
E se tudo isso não fosse o bastante para eu criar uma
antipatia nada gratuita por meu vizinho de sala de aula que tanto me aborrece,
ele passa o final de semana procurando meu nome na internet, até encontrar minha
página do blog (escrito todo em português) no FB.
No meu último texto falo sobre a homossexualidade e o
cristianismo. Ao ler a palavra “homossexualidade” - provavelmente coincidente em russo - ele me manda uma mensagem privada pela minha página, como
se tivesse podido ler meu texto à perfeição:
“Por que a homossexualidade te interessa?”
Eu já senti cheiro de cocô na pergunta. Pensei em não responder,
mas burramente expliquei em duas econômicas linhas, que me interesso pelos
direitos dos homossexuais. Não satisfeito com minha resposta, Svetilano, que
acredita que falar sobre homossexualismo é ser homossexual (desconhecendo aparentemente
o significado do homossexualismo), pergunta-me com toda sua jumentez sem ficar
vermelho:
“Seu texto me pareceu muito estranho. Você foi um homem no passado?”.
WTF!!!!
Jumentez tem limite, vai!!!
Não somos mais amigos.
PS: Como o cara anda investigando minha vida na internet, dando-se ao trabalho de interpretar meus textos escritos em português (temendo que ele seja meio demente) troquei o nome dele e não citei de qual páis russo ele é...