Para mim brilhante, no bom sentido da arte cinematográfica...
Sinopse de Anticristo: Um casal,
após a morte acidental do filho, retira-se para uma cabana nos bosques, para
que o marido terapeuta possa tratar a sua mulher, que ficou psicologicamente
devastada com o acontecimento. Mas a estada na cabana vai ser tudo, menos
pacífica...
Anticristo é um filme de
Lars von Trier de 2009, que mostra um cenário terrivelmente dramático e faz
o telespectador levantar grandes questões sobre a humanidade e sobre efeitos
psicológicos causados por tragédias. Uma obra profunda e (lamentavelmente) mal recebida pela
crítica, incluído na lista dos filmes mais polêmicos de todos dos
últimos tempos.
Para começo de conversa já digo que em se tratando do gênero
proposto: Suspense (que não é lá a minha praia), Lars Von Trier chega
chutando o pau da barraca e botando para quebrar! Por mais sacana que o
telespectador possa ser em sua vida pessoal, duvido que algumas cenas do filme não
o escandalizem em gênero, número e grau. Bom, o filme é de suspense, mas juro
que nunca vi cenas de sexo tão escrachadas como essas presentes aqui. EXPLÍCITO! Não, não estou exagerando...
e logo deixarei de falar sobre o sexo, para ir ao tema que interessa. Prometo!
Toda a estrutura lembra uma opereta de horror que
inicia em câmera lenta, com uma longa cena frenética de sexo entre o casal
protagonista (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, ambos em Ninfomaníaca), enquanto
ao mesmo tempo o filho deles salta pela janela e morre. O luto da mãe, que se
sente culpada pelo acidente, é exteriorizado de forma intensa, enquanto o
marido utiliza suas técnicas de terapeuta para minimizar o trauma emocional da
mesma.
Parece que o luto do pai
não é sofrível como o de sua mulher, e ele passa a ter mais interesse por ela após
a mesma virar sua paciente.
Quando ambos se isolam numa cabana isolada na floresta
é que se inicia a verdadeira intensidade da trama, mostrando-nos a negatividade
conturbada que se passa no interior de uma mente combalida. Grande parte do
filme é sobre a dor, o sofrimento e o trauma que o luto gera na personagem, mãe
do menino morto.
Confesso que não sabia direito o que esperar; pois com
a trama caminhando de forma tão lenta (ainda que obscura), focada na depressão da
mãe, supus que para esquentar o angu, logo apareceria um espírito demoníaco com
alguma besteira vinda do além, e então, teríamos o gênero “suspense” definido.
É aí que o diretor surpreende, transformando a dor de sua personagem em
loucura, e o “demônio” chega de dentro para fora da cabana, NÃO do outro mundo,
mas deste. Não é um espírito vazio e abandonado que choca (como seria o clichê mais
esperado para um filme situado em uma cabana isolada na floresta), mas a carne
e osso repleta de sangue e pensamentos, habitando a mente e o comportamento de
uma pessoa perturbada. A última vez que tive uma “surpresa” assim, assistindo um
filme de suspense, foi em Jogos mortais
(não querendo aqui comparar um com o outro).
Os méritos, a ousadia e a polêmica do longa, dividem a
opinião do público do preto ao branco. Imagens muito fortes, FORTES mesmo, mas sem
o vil artifício de mostrar intestinos para fora do corpo ou usar de cenas apelativas.
Para quem não consegue imaginar o sentido literal da palavra “explícito”, o Lars dará uma boa “dica” em
Anticristo!! Nesse longa, que muitos
odiaram e consideraram de “mau gosto”, um tema incompreendido é abordado. Será
que Deus não passa de uma conspiração contra o homem?
"O vento é a respiração de Lúcifer"
Parece que o sexo é a arma mais forte de Satanás para
dominar a mente humana. A natureza é má, por isso a nossa também é. A do homem
e a da mulher. Ademais de forte e impactante, com uma direção que empurra o
telespectador de cabeça na trama, "Anticristo" tem uma beleza visual
fantástica, atuações delirantes, dignas de tirar o chapéu aos dois atores
(Charlotte ganhou o prêmio de melhor atriz em cannes), entrando completamente em
sua personagem ao ponto de se expor física e emocionalmente até perder o fôlego
(e tirar o nosso, diga-se de passagem). Ao ver o filme, juro que pensei várias vezes:
Pqp! Como deve ter sido para a atriz filmar isso? GZuis!!! Mas Willem Dafoe
também não deixa por menos, e apavora. Para quem não se assusta com um “pouco”
de violência bizarra e ao mesmo tempo humana, e gosta de filmes inteligentes,
vale muito a pena assisti-lo. O filme pede compreensão nas desordens entre o racional
e o irracional, inconsciente e consciente, nos conflitos entre os conceitos do
bem e mal; sanidade e insanidade.
Anticristo não é para todos, então, prepare-se...!
Se há uma falha em tudo isso, arriscaria dizer que foi
no título. Apesar da negação de Deus retratada sutilmente através do ateísmo, não
correlacionei esse enredo (recheado de simbologias) com a escolha do nome.
Em entrevista, o diretor Lars von Trier disse que é ateu e que Anticristo foi uma forma de passar para Deus tudo o que aprendeu sobre ele.
Oww louco! Fuerrrrte, no?? E aí, vai encarar essa?