O cinema já não é mais como
nos velhos tempos... (E nem eu)!
Nesse post, não vou dizer que
o cine está melhor ou pior, mas apenas ressaltar como me parece agora, e como eu
o via antes:
Outrora, íamos com dois
tostões no bolso, pagávamos a entrada e ainda sobrava para comprar uma pipoca e
voltar de buzão. Naquele tempo, a pipoca não tinha manteiga (ou pelo menos, era
opcional) e nem era tamanho de Hong Kong. Aliás, o tempero da pipoca era
Fondor. E se quiséssemos comprar apenas pipoca, ela não saía o dobro do preço
só porque estava separada do combo (aliás, esse tal de combo sequer existia).
Sexta-feira (tempos atuais):
Estou eu lá no cinema, não sei se estou em SP ou nos EUA. É tudo tão americano!
Com exceção da Coca-Cola que me vendem pelo olho da cara e sequer me dão
aqueles copões com canudo, tudo parece cheirar a MC Donald. Mas, a imitação
americana é bem fajuta, pois no cinema daqui não tem copo, quem dirá gelo! E se
antes só vendiam refrigerante e pipoca, hoje até cerveja se pode comprar.
A menina me oferece o combo
que acompanha Coca e chocolate. Eu até o levaria, mas não quero chocolate (pois
afinal, duas mil calorias de pipoca com manteiga) são suficientes para uma
noite. No combo com pipoca, o chocolate parece ser obrigatório:
- Leva assim mesmo. A senhora pode guardar o chocolate se não quer comê-lo!
- Ou vocês poderiam oferecer combos sem chocolate para clientes que querem apenas pipoca!
- Então, a senhora tem que comprar separado! - Avisa a garota, irritada porque não aprovei um dos três combos do cine (todos com chocolate).
Compro, levo minha pipoca
para a sala, que agora, tem assentos numerados. Procuro meu número, mas está
ocupado (deve ser alguém que também não se acostumou com a ideia de ter o
assento pré-determinado na bilheteria). Antigamente, a gente sentava em
qualquer lugar, e até trocava os assentos no meio do filme se não estivesse
gostando do lugar (uma grande tolice, eu sei, mas era assim...). Colocávamos os
pés na cadeira da frente até o lanterninha
aparecer e nos ameaçar de expulsão e assassinato. Salvo exageros, morríamos de
medo dele, mas mesmo assim, além de cuspir pipoca para os lados, nossos pés
seguiam levantados, exalando fedor de chulé aos vizinhos cercanos; e se o
assento da frente estivesse ocupado com alguma cabeça, mudávamos de lugar e
pronto.
Na fileira da frente, vejo
pessoas com celular aceso na página do Facebook. Imagino-as postando algo
idiota, justamente quando o filma começa, do tipo: “Cineminha!!!!” ou: “Muito
anciosa (com “c” mesmo, pois é normal para o público do FB escrever certas palavras
erroneamente) para ver o filme tal...”. “Entrando no cinemaaaa!”. Aí, o filme
começa, e a criatura fica nervosa; não consegue seguir o raciocínio do filme ou
sequer entender o gênero, se é comédia ou suspense. Ela está com fogo no rabo,
e continua acessando, discretamente, o celular, fingindo-se de ocupada,
pensando se já apareceu algum comentário referente a informação de ela estar em
um cinema, e não vê a hora do filme acabar para ler a babaquice que comentaram
sobre a babaquice que ela postou. Dããã mundo animal!
O filme começa, e durante as
conversas entre os protagonistas, onde tudo parece ficar tão silencioso, evito
mastigar a pipoca. Do meu lado, um monstro que além de mastigar com a boca
aberta, ainda fica mexendo dentro do saco como se estivesse procurando um
tesouro. Perco atenção no filme. Concentro-me no pipoqueiro ao lado. Não quero
uma discussão, e por isso, viro o rosto e o encaro de forma intimidante. Ele
não entende meus recados, meus olhares. Continua mastigando e mexendo, mexendo
e mastigando, enquanto o filme passa, e não consigo mais prestar atenção nas
cenas. Não entendo nada mais, e só penso em esticar a mão violentamente na cara
do vizinho do lado ou aproveitar a escuridão para enfiar-lhe um dedo no olho.
Quando o pipoqueiro acaba de comer (por sorte, o saco dele era pequeno), o cara
toma seu refrigerante fazendo glugs glugs igual um hipopótamo sedento. Meu
Deuzz, quero tanto que ele se afogue! Como as pessoas estão mal educadas,
credo! Do outro lado, alguém faz barulho com plástico; deve ser um maldito
pacote de amendoim. Estou concentrada nos vizinhos. Se brigar com um, talvez o
outro me ataque, considerando que os barulhentos se unem nessas horas. Não sei
o que está acontecendo no filme, de repente, escuto risadas. Esses estranhos,
com quem bizarramente comparto o mesmo lugar, estão rindo, e eu sequer estou a
par do motivo. Agora, silêncio. Os animais acabaram de comer. Minha pipoca
esfriou e ficou mole. Estava tão concentrada na pipoca dos vizinhos que esqueci
minha própria, e também, de ver o filme. Tento me concentrar, pego embalo, mas
o povo ri novamente. Dessa vez prestei atenção, massss não teve a mínima graça!!!!
No entanto, devo escutar a risada dessa gente, pensando em que tipo de humor
será esse que tem. Estou pensando também em não voltar mais ao cinema, ou em,
da próxima vez, sentar-me na primeira fileira da frente, naquele lugar onde a
tela fica grudada em nossos olhos, mas também, onde geralmente, não há vizinhos
barulhentos de humor fácil e bizonho.
O filme acaba, e não gostei
dele. Não entendi o que o diretor quis dizer (mas claro, viajei na maionese tal
qual o pessoal do FB sentado à frente, que no meio do filme ainda ficou com o
celular aceso, postando, provavelmente, um monte de bosta, e tirando atenção de
quem não tinha celular nas mãos, e tampouco, é membro dessa rede).
Quando me levanto do
assento, trezentas pipoquinhas caem de mim. É incrível que por mais que se cuide,
sempre metade da pipoca acaba em cima de você, assim como, por mais fio dental
que se passe nos dentes após comer pipoca, sempre fica algo para o outro dia.
É hora da saída. Todos
querem ser os primeiros a deixar o local, até parece que há um incêndio na sala.
As pessoas meio que se pressionam na escada. A falta de educação é percebida na
fila do banheiro. Todo mundo que está ali sabe que o povo do cinema, ao final
de mais de duas horas sentados, quer cagar, mijar, peidar no banheiro... Whatever.
E por isso, empurram-se tanto, lutando para serem os primeiros a aliviarem no
sanitário tudo que consumiram no cine.
O pessoal dos shoppis faz algo sofisticado nos
banheiros: Assim que levantamos a buzanfa do vaso (sem encostar) o sensor é
acionado e descarrega nossos fluidos automaticamente, mas ainda precisamos
abrir a porta com nossas mãozinhas... Na pia, tudo é automático, mas nada
funciona! A torneira, o detergente, o papel toalha... Aí, após fazer
necessidades fisiológicas muito higienicamente, somos obrigadas a meter a mão
em tudo que há na pia, na busca desesperada que algo funcione.
No estacionamento, não
encontro o carro. Todos parecem tão iguais! Antigamente, estacionamento no
shoppis era de graça, hoje, temos que pagar bem por isso. Não encontro o
maldito papelzinho do estacionamento. Não encontro o carro. Percebo que mesmo
que encontre o papel, não tenho dinheiro para pagar por ter estacionado o carro
que não encontro. Encontro o carro. Encontro o papel todo amassado no bolso do
meu jeans, depois de vasculhar a bolsa inteira, mas ainda não tenho dinheiro.
Tento passar o cartão de débito, mas a máquina do shoppis não funciona no
momento. Tiro tudo o que me resta nos bolsos, e apenas duas moedas de cinco
centavos caem. O cara do guichê, um espinhento de olhos amarelos me olha com
olhos de fogo. Agora, sinto-me como uma assaltante, uma bandida de
estacionamentos. Sem opção, ele libera meu automóvel. Sem opção, penso que da
próxima vez, o cinema será em casa. Até Tela
quente servirá, isso se essa programação ainda existir... Sei lá... O cinema
já não é como antes, e algumas vezes, ao contrário de dar prazer, estressa!!!
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1. Está vetado o linguajar muito sacana ou ofensivo - salvo exceções bem aceitas, do tipo: xingar o próximo (isso pode!).
2. Se quiser delirar, procure a torcida do flamengo, pois de sacana aqui já basto eu!
3. A gerência de marte agradece a compreensão!
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