Dezembro de 2009 rumo
a Roma, cidade antiga, histórica, encantadora...
Ruínas e pedras,
esculturas, monumentos, tudo tamanho GG, ou extra G. Portas gigantes, lugares
colossais, basílicas, pessoas de toda parte do mundo, centenas de idiomas
soltos na rua...
O Vaticano, nunca vi
igreja (se assim podemos chamar), tão gigante, poderosa, rica, farta, tão
povoada de gente, de quadros, monstruosas pinturas e esculturas no seu
interior. Fora da santa igreja, pedintes, esmoleiros, idosos implorando por uma
moedinha com seus corpos pobres espalhados pelo chão, estrangeiros explorados
vendendo flores, guarda-chuvas, pedindo trocadinhos no metrô com bebês
recém-nascidos aos braços, cantando modinhas, tocando a sanfona, mãos
estendidas e olhares perdidos...
Na capela Sistina,
milhões de pessoas enlouquecidas esbarrando umas nas outras. Dentro daquele
lugar gigantesco, policiais, proteção desmedida. Senti como se estivesse na
faixa de Gaza, devido à hiper, mega segurança (também pudera, com toda aquela
fortuna lá dentro...). Lá fora, os mesmos pedintes na chuva... O que estariam
pensando, famintos, enquanto outros gastam e consomem, levando junto consigo o
enorme tecido adiposo, aquecido pela própria gordura bem alimentada??? No museu
do Vaticano, obras, quadros, tapetes, mais e mais esculturas, os olhos
lacrimejam, não de emoção, mas de vergonha, os tetos cravejados de arte e ouro,
as paredes vivas de cores exuberantes, a luz da fortuna afeta a retina. Ainda
lá dentro, lembrancinhas com a imagem do santo papa, cartões postais, livros...
tudo inflacionado, preços bastante especiais aos turistas enlouquecidos com
tantas “maravilhas”. A "santa" igreja quase queimou Galileu, agora,
em pleno século XXI, há uma exposição de seus estudos a 6€ a entrada,
discordantemente encantador!!! E lá fora, na porta da igreja os mesmos famintos
atropelados pelos pés dos turistas... O mesmo descaso àqueles que só se
interessam pelas ruínas e um monte de pedras de mil anos... Na urna da igreja,
depósitos em notas de 10, 20... Euros e cheques. Aos pedintes, olhares de
desprezo. Que fazem essas criaturas molestas, com suas mãos grossas, mendigando
para comer?
Sou simplesmente
ignorante, uma a mais na multidão enlouquecida, desinteressada por toda aquela
arte pendurada, aquelas cores intensas nas pinturas que cansam os olhos. Saí
com vertigem dos museus, no Vaticano, tive uma ligeira vontade de vomitar.
Descobri que o
conhecimento cansa demais e aborrece. Enquanto Roma se ocupa em explorar os
turistas propensos a gastar até o último vintém, lá fora, nas ruas, os mesmos
sem-teto continuam pedindo trocados...
Realmente fiquei
surpresa, mas não menos que revoltada e desorientada com a quantidade alarmante
de esmoleiros e vendedores de qualquer coisa nas ruas, no metro, na mesa de
bares... Perdi a fome no país, que para mim, tem a melhor culinária do mundo!
Contrastante! Entre
luxúria e poder a pobreza se choca. Triste! Ser turista em uma cidade tão cheia
de história e evidenciar o descaso vivenciado por muitos. ESQUECIMENTO!
"Amparados nas mãos do desamparo!"
Essa é uma das
realidades não reveladas da Europa, que evidentemente, não constam no manual de
turismo!