Dubai (pode até haver fotos mais lindas por aí, mas essas, eu tive o prazer de fotografar pessoalmente!!)
Galope a
camelos
Minha camela: Sheba
Profissão: Transportadora de turistas babacas
Nacionalidade: Arábica
Filantropia: Ajudar um jovem arábico de pele curtida a ganhar a vida
Turista babaca da vez: Geyme Lechner Mannes
Dubai
Em mais uma viagem inesquecível...
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Antes de qualquer
coisa, ressalto que não gosto de ser turista por alguns dias no país alheio
para questionar aspectos que não domino, (igual escuto de vez em quando por aí,
bobagens acerca de outros povos e suas tradições, não raro, asneiras sobre meu
próprio país, de gente que acha que sabe sem saber), como se poucos dias fossem
o bastante para conhecer determinadas características de uma cultura estranha.
Então, vou começar
esse texto com minhas observações dessa curta estada e da experiência vivida
nesses poucos dias
Para quem não sabe,
(assim como eu, que tive que pesquisar), Dubai é um dos sete emirados e a
cidade mais populosa dos Emirados Árabes Unidos (EAU) com aproximadamente
2.262.000 habitantes (sendo que aprox. 80% são estrangeiros), louco, né? Está
localizado ao longo da costa sul do Golfo Pérsico na Península Arábica na
África. Dubai é conhecida mundialmente por ser extremamente moderna,
"futurista" e com enormes arranha-céus e largas avenidas. Os
edifícios são tão longos que nos causa certa vertigem ao olhá-los de baixo
(como seres ínfimos, quase ridículos), arrisco dizer que são joias, modelos
exclusivos de uma arquitetura única e extraordinária. Dentre elas, podemos
destacar as Palm Islands, o arquipélago The World, o hotel Burj Al Arab (um dos
hotéis mais luxuosos de Dubai, que foi construído sobre uma ilha artificial,
com 321 metros de altura, sendo a 2ª estrutura mais alta usada como hotel, após
perder o título para a Rose Tower, edificada também em Dubai. O edifício imita
a vela de um barco, e hoje é um dos principais cartões postais da cidade e do
país.).
Os arábicos adotaram
o inglês como segunda língua, do homem que “vende” passeios com camelos na
praia, ao pessoal dos hotéis 5 estrelas. O lugar está tão internacionalizado
que os supermercados foram invadidos por produtos tipo Nestlé e as avenidas
pelos fast food americanos. Queríamos azeitonas arábicas e só encontramos
espanholas. Absolutamente tudo traduzido do arábico ao inglês, qualquer
cardápio ou placa de transito encontramos nos dois idiomas.
Partimos de Leipzig,
Alemanha, e fizemos conexão em Paris, num voo de 6 horas, 5241 Km , de França
até Dubai, sobrevoando Bagdá, com 2 horas de diferença no fuso e 25 de
temperatura. Saímos do climatizado ambiente do avião, (depois de comprovarmos
através de visto e fotografia ocular que não éramos terroristas), para impactar
com uma temperatura noturna de quase 50 graus, uma verdadeira sauna gratuita!
Já no caminho do aeroporto ao hotel, vislumbramos as imensas construções, a
cidade iluminada, os carros de ultima geração, as mesquitas, a grandiosidade e
a riqueza quase ofensiva do lugar. Realmente inacreditável! Foi rápido
constatar a mistura de culturas sob ruas e avenidas andando lado a lado,
mescladas!
Em Dubai, todos os
dias são dias de sol, sem exceção! Disseram que pode chegar a chover uma vez
por ano... O céu está sempre azul e o sol rasga a cidade às 6:30 imponente, sem
nuvens, num calor quase irrespirável. A água do mar é quente qualquer hora do
dia, e a da piscina, resfriada.
Idiomas
irreconhecíveis circulantes ao seu lado, mulheres arábicas dirigindo luxuosas
caminhonetes, limusines com dimensões de casas, restaurantes de todos os
lugares do mundo. No centro, centenas de joalherias, (mas nada de mirrados cordões
de ouros), refiro-me a correntes cravejadas de pedras que caberiam no pescoço
de um rottweiler, braceletes para os braços do Conan e anéis
para dedos de King-Kong. No mesmo contraste das grandes lojas,
falsificadores com trejeitos mafiosos falando aos ouvidos, discretamente,
sobre imitações de rolex, como um magnífico negócio da China... (eles
ficariam loucos se vissem nossos camelôs legalizados no Brasil).
Acho que é de
conhecimento comum que o idioma arábico se escreve da direita para esquerda, em
poucas palavras, soam como assinaturas ininteligíveis (duvido que faça algum
sentido aquele garrancho bem escrito, rsrsr). Nos restaurantes nativos, nos
entregam o cardápio de trás para frente (e não, a sobremesa não está na ultima
página, ou isso quer dizer a primeira???)
Apreciadores de
bebidas alcoólicas devem se precaver, pois fora dos lugares convencionais, é
impossível encontrá-las, ou, nos hotéis e bares apropriados, uma mísera cerveja
de 330 ml custa cerca de 40 dirham, mais ou menos 8 euros, ou, 21 reais (o
preço é uma boa forma de evitarmos a ebriedade), 1 cerveja rela e pé na
estrada, de volta ao hotel a dormir!!!!!!!
A Burca
As primeiras burcas e vestidos masculinos, já no aeroporto, chamaram-me
a atenção, mas como bom ser humano que sou, depois de algum tempo, perdi o
interesse e as mulheres vendadas já eram comuns aos meus olhos. Confesso que
sentia certo horror pela burca antes dessa viagem, mas vi mulheres tão
elegantes com esse traje distinto, diferenciado por bordados nas mangas,
aplicações de brilhos, enfeites glamorosos (lembrei do ultimo Sex and the City,
ao ver muitas delas, com o rosto coberto, enquanto empunhavam uma bolsa Louis
Vuitton, sem sombra de duvidas legitimas), e seus adereços de ouro e brilhantes
cravados nos relógios, anéis e pulseiras. Mulheres executivas, profissionais,
estudantes, com a beleza resguardada pelo véu negro.
Acredito que esta
indumentária é opcional para as cidadãs de Dubai, pois vi muitas arábicas em
roupas ocidentais pelas ruas. Na piscina, algumas em roupa de banho (como nos
anos 50 ou 60, sei lá), outras, refrescavam-se com calças e camisetas, enquanto
as mais resistentes (ou fieis a tradição), mantiveram-se embaixo do guarda-sol,
apenas com os olhos expostos por debaixo da burca). Se fosse meu caso e tivesse
mesmo que usar esta vestimenta, (sem querer ofender, pois achei realmente
bonita a cultura), acoplaria uma garrafa de uísque por debaixo do traje e daria
umas boas risadas, às escondidas, daqueles homens machistas.
Ramadan
No hotel, quase
desfilamos pelados, porém, no centro, as mulheres devem vestir calças
compridas, blusas sem decotes, não transparentes, “sem pele” à vista (isso
inclui a mim e a você que está lendo esse texto!). Pegamos a época do Ramadan,
nono mês do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos praticam o seu
jejum ritual.
O jejum é obrigatório
a todos os muçulmanos que chegam à puberdade. A primeira vez em que um jovem é
autorizado a jejuar pelos pais, significa a marca de entrada na vida adulta.
O jejum é observado
durante todo o mês, da alvorada ao pôr-do-sol, também se aplica às relações
sexuais. O crente deve não só abster-se dessas práticas como também não pensar
nelas e manter-se concentrado em suas orações e recordações de Deus, sendo
neste mês a frequência mais assídua à mesquita (que tortura)!!! Além das
cinco orações diárias, recita-se uma oração especial chamada Taraweeh (oração
noturna). Não contei a periodicidade, mas a cada tanto, um canto em forma de
oração inundava audivelmente e com esplendor, os ouvidos de cada transeunte que
passeava pela cidade, talvez fosse um chamado para a mesquita, ou, um lembrete
que era hora de rezar).
Neste período,
pede-se ao crente maior proximidade dos valores sagrados, leitura mais assídua
do Alcorão, correção pessoal e auto domínio, (ainda que não pudemos deixar
de perceber uma certa analogia como o nosso “Natal”, pelos excessos de comida
nos carrinhos dos supermercados, o consumismo dos circulantes com centenas de
sacolas em punho, propagandas de presentes para o Ramadan em Outdoors
gigantescos...), bem, mas nesse período, está criteriosamente proibido comer,
fumar ou beber em público, sob pena de pagar 2.000 dirham (isso se aplica aos
turistas também!). Nos shoppings, os poucos restaurantes abertos, estavam
completamente revestidos por uma cortina gigante. No mesmo shopping, um lugar
para esquiar coberto de neve e friorento. É impressionante o que o dinheiro
pode fazer, não há limites! Construir uma espécie de “alpes suíços nevados” no
deserto?? Foge do meu poder de credibilidade.
No mercado Arábico
Primeira
parte da experiência
Já escutei o mito de
que se não barganhamos no mercado, os arábicos se ofendem! Como não gosto de
insultar ninguém e também acredito não ser boa negociadora, convenci meu marido
a fazer o “trabalho sujo” para mim. Já na primeira tenda, fomos abduzidos
para seu interior enquanto um dos mercadores nos seduzia com ervas e temperos,
cada qual era explicado criteriosamente, cheirávamos tudo, certas coisinhas
(que não poderia citar nomes), o mercador nos fazia comer também. Como nos
pareceu tudo muito simples, de gente humilde tentando ganhar a vida,
anunciamos sem perguntar o preço (típica atitude de turista babaca), o que
levaríamos. O simpático homem anunciou o assalto e pagamos sem pestanejar.
Esperei uma reação do meu marido que jurou ser um negociador nato, mas nada
aconteceu. Eu, que sou covarde, assustei-me, calei-me e agradeci sem nada
dizer.
Obs: Desmistificando
o mito: Se você não barganha, não ofende ninguém, apenas, paga mais caro!
Segunda
tentativa: Todo malandro tem sorte!
Segunda tenda e
avisto uma blusa maravilhosa, meus olhos brilham, meu corpo estremece (maldita
consumista)! Nem a provo, pergunto o preço, parece acessível, continuo buscando
no lugar de tecidos deslumbrantes (tive que pedir ao meu marido um olho
emprestado, meus dois não bastavam). Vejo tudo com minhas mãos inquietantes, o
bom vendedor mostra xales de cashimira, mais tecidos, centenas de preciosidades
ao meu alcance, e de repente, um acesso de realidade. Digo: “Ah, é lindo, mas
não, obrigada!” não estava barganhando, pensei apenas que tinha ainda muito por
comprar e deveria equilibrar o orçamento. Sem querer, comecei a negociar e não
sabia. O homem baixa 20% do valor e eu repenso, mais uma vez nego a proposta.
Ele torna a rebaixar por quase metade do primeiro valor, meus olhos retomam a
vivacidade e numa repentina ousadia (ainda tímida de minha parte), lanço um
valor mais baixo que a oferta, temerosa de perder o negócio. Para minha
surpresa, ele aceita (agora, sem o mesmo sorriso inicial, e todos ficamos
felizes (o “todos” é por minha conta)!
Penúltimo
dia antes de voltarmos: O retorno! Dessa vez, Expert na barganha
Algo que não sabia em
relação aos sapatos arábicos é que ambos servem para o mesmo pé, não há isso de
esquerdo ou direito, eles têm a mesma forma. Dessa vez, no mercado, vimos
também presentes para família, para a casa... Até chegar o dono do lugar que
nos mostra a bandeira do Brasil pendurada na parte interior da loja, conta-nos
que tem muitos clientes brasileiros (desacredito ao princípio), então, fala
números e palavras como “bonito” e “barato” em português. Momento de
negociação: ele digita um número (grande) na calculadora e me mostra, eu coloco
as mãos para cima e digo que é um assalto! Tomo a calculadora das mãos do
negociante, redigito a metade do valor e devolvo a calculadora para que ele
possa ver. O homem fala em seu idioma com o ajudante, coloca as mãos na cabeça,
diz que é impossível e redigita uma nova cifra, dessa vez, apenas com um
desconto de míseros 10 dirham, eu continuo a brincadeira subindo meu valor
ofertado na mesma medida de 10, assim seguimos por 50 minutos até chegar ao
valor que agradou ambos. Enquanto meu marido, arroxava de vergonha em um canto,
reduzido a migalhas, eu sorria triunfante! Antes de pagar, ainda peço um
brinde, a essa altura o homem já estava chorando. Final de negociação, ele fala
qualquer coisa que não entendo em português, repete uma vez mais e parece que
desmembro o acento arábico e entendo: “Tati Quebra barraco”! What????? O homem
ri, tira o celular do bolso e aperta o play numa música que inicia assim: “Sou
cachorra, sou gatinha... Boladona, boladona...” Estava petrificada! Dessa vez,
comprovo finalmente que ele dizia a verdade sobre seus clientes brasileiros.
Imaginei o provável carioca que passou a música ao arábico, dizendo ser um
clássico brasileiro. Achei o máximo! Pela primeira, não escuto gente no
exterior fascinada com Tom Jobin ou familiares. Meu marido que fala ótimo
português, frustrou-se porque não entendeu a letra da “Tati”, enquanto eu, não
encontrei forma de explicar ou traduzir (mesmo agora, que a tenho por escrito,
na minha frente)!
Minha camela: Sheba
Profissão: Transportadora de turistas babacas
Nacionalidade: Arábica
Filantropia: Ajudar um jovem arábico de pele curtida a ganhar a vida
Turista babaca da vez: Geyme Lechner Mannes
Dubai
Em mais uma viagem inesquecível...
Geyme, é incrível como consegue manifestar em palavras suas experiências fazer seus leitores se sentirem nas cenas.....muito bom! obrigado por mais esse compartilhamento para o deleite de seus seguidores....principalmente os provincianos.... como é o meu caso. Um grande beijo à ti e ao meu grande amigo negociador de araque (não de Iraque, nem árabe).rs. Robsom - SP.Brasil
ResponderExcluirREALMENTE UMA VIAGEM INESQUECÍVEL, CONHECER, HÁBITOS E COSTUMES É SEMPRE UMA FORMA INTELIGENTE DE SERMOS MELHORES PARA QUE POSSAMOS ENTENDER NÓS MESMO, ENFIM, SEU ARTIGO É OBJETIVO E FAZ A GENTE PEGAR CARONA NESTA DELICIOSA LEITURA E IR ATÉ DUBAI DE GRAÇA, A DISCRIÇÃO DA CIDADE, DOS HÁBITOS E DOS COSTUMES FOI MUITO BEM EXPLORADA PELO SEU ARTIGO, CONFESSO-A QUE ADOREI, DESDE DOS ARANHAS CÉU IMPONENTES, PASSANDO PELO RAMADHAM, E FINALIZANDO COMO BOA CONSUMISTA NOS MERCADOS PARA COMPRAR E TRAÇANDO SEM MUITA EXPERIÊNCIA UMA BARGANHA PARA CHEGAR AO PREÇO JUSTO ACESSÍVEL AO SEU BOLSO, PARABÉNS PELO ARTIGO RICOS DE DETALHES SOBRE O POVO ARÁBICO. ÓTIMO DIA, DO SEU AMIGO LITERÁRIO DE SEMPRE.
ResponderExcluirMoisés Cklein
Ficou meio longo, mas depois de duas semanas, finalmente, acabei de ler, rsrsrsrsrs Isso sim é fazer uma viagem diferente, outra arquitetura, uma cultura muito diferente da nossa, e posso imaginar o luxo e o poder dessa cidade!! Espero que da próxima vez, vc barganhe presentes aos amigos tb, hehehe Amei saber esses detalhes que só seus olhos implacáveis seriam capazes de fotografar!!! Beijos e beijos e beijos!!!
ResponderExcluirQue fotos lindaaas Ge!
ResponderExcluirImagino que deve ter sido mesmo uma viagem maravilhosa. As paisagens já valem a pena né?
Nossa, que viagem sensacional mesmo!!!! Quem pode, pode, hehehe Beijos!!!!!
ResponderExcluirNossa, que viagem sensacional mesmo!!!! Quem pode, pode, hehehe Beijos!!!!!
ResponderExcluirQue lugar maravilhoso, olha meus parabéns, amei tudo aqui, aos poucos vou lendo mais, nossa incrivel, beijos
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